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          São Fidélis também é conhecida como “Cidade Poema” devido às belezas naturais e ao seu grande número de poetas. Terra de inúmeros grupos de imigrantes, muitas de suas famílias possuem origem sírio-libanesa, portuguesa, alemã, italianas, dentre outros grupos. Sua economia é baseada no cultivo da cana-de-açúcar e na agropecuária (gado de corte e pecuária leiteira).
É banhada pelo Rio Paraíba do Sul e por dois importantes afluentes: Rio Dois Rios e Rio do Colégio. Seu acesso principal se dá pela RJ-158 que liga a cidade a Campos dos Goytacazes.
Com excelente traçado, uma das únicas cidades brasileiras cujo urbanismo foi rigorosamente previsto e cujas linhas nunca deixaram de ser respeitadas. Os atrativos turísticos também estão presentes, contando com construções históricas, culturais e ecológicas. Entre elas, merecem destaque o Mercado Municipal, os quiosques, igrejas, monumentos, praças, fazendas, Serra do Sapateiro, Serra Peito de Moça, além de outras serras e cachoeiras. Em 2009, a Igreja Matriz do município, em seu projeto de arquitetura ainda ímpar, completou 200 anos.

Fonte: Site oficial da Prefeitura Municipal de São Fidélis acessado em agosto de 2021

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FÁTIMA PANISSET

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Nasceu em 9 de novembro de 1966, em Dois Rios, zona rural de São Fidélis. Seu percurso formativo teve início nas carteiras da Cidade Poema, e com certeza a poesia do município se entranhou de maneira indissociável de sua personalidade, sendo escritora de brilhante talento, reconhecido em São Fidélis e além. Estudou nas Escolas Maria Zaira Brandão Rios, Maria Firmina e Colégio Fidelense.

Para a graduação, optou por Pedagogia, se especializando posteriormente em Psicopedagogia, numa vida de intensa paixão pela educação dentro e fora dos muros da escola. Em sua carreira profissional, cativou amigos e fez nascer lindas flores por onde passou, com projetos inovadores e envolventes, principalmente na área da literatura e acessibilidades.Trabalhou nas redes municipais públicas de São Fidélis e Rio das Ostras, na rede particular de ensino fidelense e na rede estadual de educação.

Foi uma das fundadoras da Academia Fidelense de Letras, sendo sua primeira presidente, institucionalizando de maneira marcante o movimento de poetas e artistas da Cidade Poema. Seu trabalho também se destacou no cultivo das novas gerações de talentos, incentivando seus alunos nas viagens pelas letras e desenvolvendo a Academia Fidelense de Letras Mirim, nascedouro de artistas e profissionais que hoje em dia levam seu legado adiante.

Aos 20 dias de novembro de 2019, aos 53 anos, Fátima Panisset ficou encantada, como explicara Guimarães Rosa em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, deixando seu exemplo na luta pela educação, seu talento em textos publicados, confidenciados e inéditos, e sua inspiração para todos.

SÔNIA SÓTA

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Fui desafiada a fazer uma espécie de biografia de minha mãe, Sônia Regina Sóta Quintãn, conhecida por muitos como Sônia Sóta e pelos seus irmãos e sobrinhos como Regina. Já inicio pedindo desculpas, caso o texto não saia com tanta maestria, que era a maneira com que ela realizava tudo o que lhe era proposto. Sou uma mera aprendiz, e minha professora e orientadora particular, que revisava todos os meus textos, agora está em outro lugar, mas um lugar muito melhor, perto de Deus. Já adianto também que é impossível descrever o tanto que ela foi e fez em um único texto, mas me comprometo a contar boas recordações. Então vamos nessa, tentar descrever a história de uma mulher forte, artista, realizadora e, eternamente, dona do meu coração.

21 de julho de 1965: esse foi o dia em que ela chegou ao mundo e na Cidade Poema, São Fidélis. De origem humilde, fazia parte de um grupo de sete irmãos, dos quais era a mais velha entre as mulheres. Começou a trabalhar nova, e ajudava bastante em casa e na criação dos irmãos. Chegou a trabalhar como atendente e também como empregada doméstica, concomitante com seus estudos. Concluiu o Curso Normal no Colégio Estadual de São Fidélis. Formada professora, trabalhou na antiga ORDEM e na Pestalozzi. Trabalhou pela prefeitura tanto em escolas da zona urbana quanto do interior, como em Dois Rios, Água Fria e Usina Pureza. Também atuou, concomitante com a rede pública, na rede privada de ensino, no IPEU (hoje CPUC), como alfabetizadora e, após graduada em Letras pela FAFIC (hoje UNIFLU), trabalhou no EFAC, lecionando Português e Literatura. Pelo estado, trabalhou no Montese, Barão de Macaúbas, Elvídio Costa, Geraque Collet e nos últimos 12 anos trabalhou no Colégio Estadual de São Fidélis, onde lecionou Português, Literatura e Arte.

A professora Sônia Sóta nunca passou despercebida em nenhuma escola na qual trabalhou. Suas aulas passavam longe da definição de “tradicional”. Dona de uma criatividade única e de uma vontade de fazer um trabalho bem feito, fazia do aprendizado uma viagem maravilhosa. Tive o prazer e a alegria de ser alfabetizada por minha mãe e por ter tido aula com ela em muitos anos escolares. Lembro-me de que, num tempo sem computador e internet, os desenhos e histórias presentes nas atividades eram todos criados por ela. Lembro até hoje dos textos em que o pessoal do Sítio do Pica-Pau Amarelo veio a São Fidélis e visitou seus pontos turísticos, as gravuras seguem em minha mente, assim como quando eles foram às Olimpíadas de Sidney. Sempre gostou de contextualizar para ensinar. A professora Sônia era mestra em criar histórias, imaginar, colocar no papel e transformar suas ideias em realidade. Lembro-me também de quando ela transformou a quadra de esportes Humberto Lusitano Maia num supermercado, onde teve até show cover da dupla Claudinho e Buchecha na “inauguração”. Esse Supermercado foi criado por ela com o objetivo de trabalhar Matemática com os alunos das antigas  1ª a 4ª séries (hoje 2º ao 5º anos) do Ensino Fundamental;  os produtos “vendidos” eram embalagens usadas e reformadas.

Foram inúmeros e grandiosos projetos elaborados por ela. Recordo-me de quando ela contou a história do nome “Montese”, do Colégio Estadual Montese, no projeto “Montese, por que te temos?”. Novamente, utilizou a quadra de esportes e fez uma gigantesca apresentação, envolvendo mais de 50 alunos e enchendo as arquibancadas. Graduada em Letras, Pós-Graduada em Literatura e habilitada pelo estado a lecionar Arte, ela mergulhava nas histórias e fazia seus alunos mergulharem junto. Impossível ter tido aula com ela e não conhecer “Dom Casmurro”, ou melhor, não amar esse clássico de Machado de Assis. Minha mãe me fez apaixonar-me pela poesia, pelo teatro e pela arte. Suas maravilhosas aulas e projetos também me fizeram conhecer Monteiro Lobato, Ziraldo, Saint-Exupéry, Miguel de Cervantes, Charles Chaplin, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e tantos outros autores e histórias. Acredito que eu não fui a única a ser alimentada por essa paixão. Mamãe tinha a capacidade de fazer seus alunos encontrarem talentos onde acreditavam que não tinham. Ela teve a felicidade de ver muitos alunos se inscreverem em concursos fidelenses de poesia e conquistarem prêmios,  assim como de muitos alunos optarem por seguir sua área de formação (Letras), ou então trabalharem em algo cujo dom foi despertado nesses projetos. São muitos os depoimentos que recebi.

Suas aulas ultrapassavam a sala de aula e até mesmo a escola. O Tradicional “Sarau Romântico” era um grande exemplo. Caracterizados com roupas de época, seus alunos transformavam a praça Guilherme Tito em uma praça do século XVIII e recitavam poesias e cantavam músicas de amor, encantando os fidelenses que por ali passavam.

Apaixonada por cultura e arte, minha mãe usou e abusou de poesia e teatro nas escolas por onde passava. O Salão Nobre do Colégio Estadual de São Fidélis ganhou vida nova ao se deparar com ela e por 12 anos foi palco de Mostras de Arte e de projetos inesquecíveis, como “O Mágico de Oz”; “A Arca de Vinícius”; “O Grito dos Excluídos” – em que  poesia, música, dança e protesto se entrelaçavam; “O Incrível Diálogo” – em que os personagens de diversas obras de Machado de Assis discutiam se Bentinho foi traído ou não por Capitu; “Lamento de uma Colombina” – em que a partir de uma poesia de José Maria Mangia, fidelense conhecido como “Bahia”, produziu uma peça que abordava o triângulo amoroso carnavalesco de Colombina, Pierrout e Arlequim, relembrando os antigos bailes de carnaval, peça apresentada dois anos consecutivos e que inspirou nos anos seguintes a criação do bloco “Bal Masqué”; e sua incrível peça que virou tradição: “A Fantástica Fábrica de Natal”, através da qual deixou transbordar para todos o amor que tinha pelo Natal e que encantava a todos: crianças e adultos que assistiam, com um cenário grandioso e envolvendo muitas turmas, alunos e ex-alunos.

Foram muitas as noites não dormidas elaborando projetos ou montando cenários. Já virei noites com ela editando vídeos e mergulhando nas incríveis ideias que tinha. Trabalhar como professora a tendo como colega de trabalho foi um dos maiores presentes que Deus pôde me dar. E eu embarquei nas ondas dela, sempre admirei aquele brilho nos olhos quando tinha uma ideia. E por mais que dissessem que ela era louca, eu hoje respondo com toda a certeza: ela era feliz. O brilho nos olhos e a empolgação que ela tinha eram nítidos e nada a fazia se sentir mais viva do que sonhar, produzir e pôr seus sonhos em prática.

Poeta, artista, professora, casada e mãe de duas filhas, assim como batalhou no passado para ajudar sua mãe, batalhou para nos proporcionar uma boa educação. Lembro-me da luta, dos choros nas dificuldades e das noites não dormidas. Lembro-me de que quase não a víamos pois trabalhava e estudava, mas sentíamos o amor dela quando víamos o quanto fazia por nós. A Sônia descrita acima, professora de mais de 30 anos de magistério e de total entrega ao que se propunha a fazer era reflexo da Sônia como ser humano. Ela foi uma filha, irmã, mãe, tia e esposa impecável, de entrega e amor absolutos. Sua partida repentina silenciou uma família, uma escola, uma cidade, mas há um pouco de Sônia Sóta espalhado em muitos por aí e, assim, a cada marchinha de carnaval tocada, a cada Natal, a cada poesia ela será lembrada e, desse modo, para sempre viverá.

Como disse no início, é impossível descrever o tanto que ela fez e foi. Mas encerro essa história lembrando o quanto ela era apaixonada por um poema de Charles Chaplin, que dizia: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, ria, dance, chore e viva intensamente cada momento de sua vida, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. Atrevo-me a dizer que sem saber ela fez valer essa fala e que a peça em que ela era a personagem principal será infinitamente digna de aplausos de pé.

(Bárbara Sóta)

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